sábado, 8 de julho de 2017

Parlamentares criticam decisão da PF de dissolver força-tarefa da Lava Jato

Líder da Rede entrou com ação na Justiça contra a decisão da PF.
Para o coordenador da PF, mudança pode até reforçar a investigação.




 Nesta sexta-feira (7), aumentou o volume das críticas à decisão da Polícia Federal de dissolver o grupo de delegados que se dedicava exclusivamente à Lava Jato, em Curitiba.

O ministro da Justiça, Torquato Jardim, cumpriu agenda em Boa Vista com o diretor-geral da Polícia Federal, Leandro Daiello. Eles passaram o dia evitando os jornalistas.

A Associação Nacional dos Delegados da Polícia Federal também evitou falar no assunto.

Na quinta-feira (6), numa entrevista coletiva, o coordenador da Lava Jato na Polícia Federal de Curitiba, Igor Romário de Paula, disse que o fim do grupo exclusivo não significa que a operação acabou, afirmou que a medida foi tomada porque o volume de trabalho da Lava Jato em Curitiba diminuiu, que a operação vive outro momento, se espalhou pelo país.

A mudança, segundo o coordenador, pode até reforçar a investigação, já que os quatro delegados que atuavam só na Lava Jato agora vão fazer parte de uma equipe que contará com 16 delegados. Ele também disse que a decisão não foi tomada por influência de Brasília.

“Quero deixar bem claro que isso foi uma decisão nossa, isso não foi uma decisão de Brasília, isso foi uma decisão de caráter exclusivamente operacional, não tem nenhum tipo de interferência, recado para segurar as investigações, para parar os procedimentos, não tem nada disso. Foi uma definição administrativa do ponto de vista operacional para dar continuidade aos trabalhos”, afirmou Igor Romário de Paula.

Os delegados que atuavam só na Lava Jato agora vão fazer parte da Delegacia de Combate à Corrupção e Desvio de Verbas Públicas, um setor responsável por várias investigações. Também serão transferidos os delegados da Operação Carne Fraca, no Paraná.

O deputado Mauro Pereira, do PMBD, defendeu a reestruturação: “Foi uma decisão do Delegado Federal da Polícia Federal, o delegado-chefe da Delegacia de Combate à Corrupção e Desvio de Verbas Públicas (Delecor), o delegado Igor. Ele deixou bem claro ontem, a Lava Jato vai ter todo o respaldo. O objetivo é ampliar o número de delegados, porque nós temos ótimos delegados em todo o Brasil. Já está sendo montado o maior programa de combate à corrupção do país. Vai ser reforçada com mais policiais. Todos eles juntos imaginem a força que têm. Então, palavras do superintendente da Polícia Federal do Paraná. Ele deixou bem claro ontem que não é falta de recurso. Recurso tem”.

Apesar das explicações da Polícia Federal em Curitiba, o fim da dedicação exclusiva dos delegados foi duramente criticado, principalmente por procuradores que também atuam na Lava Jato. Eles afirmam que a mudança pode atrapalhar as investigações.

“Uma pessoa que quiser entrar hoje para trabalhar na Lava Jato vai precisar de no mínimo seis meses para começar a ter o entendimento do que é essa complexa investigação. Então, a falta de especialização torna realmente pó todo o conhecimento investigativo já adquirido nos últimos anos. Mas o Ministério Público Federal manterá a sua equipe e continuará trabalhando arduamente para entregar os resultados à sociedade”, disse o procurador da República Athayde Ribeiro Costa.

O presidente da Associação Nacional dos Procuradores da República também condenou o fim da exclusividade da Polícia Federal.

“Não por acaso a força-tarefa até hoje estava organizada com exclusividade também por parte da Polícia Federal. Os colegas procuradores da República que se dedicam à Lava Jato, na maioria, na enorme maioria dos casos também estão trabalhando com exclusividade e o próprio juiz, doutor Sérgio Moro, está trabalhando com exclusividade. Então, retirar a exclusividade é uma queda da dedicação da instituição Polícia Federal em Curitiba à Lava Jato. E é isso que eles teriam que justificar”, disse José Robalinho Cavalcanti, presidente da Associação Nacional dos Procuradores da República.

O presidente da OAB cobrou mais transparência nas decisões que envolvem a Lava Jato. “Qualquer ideia que se tenha hoje de limitação da ação da Polícia Federal no âmbito da Operação Lava Jato ou de qualquer outra operação no Brasil que combata a corrupção, que combata a impunidade, combata o crime, é algo absolutamente inaceitável”, disse Claudio Lamachia.

A mudança também foi criticada por senadores. O líder da Rede entrou com uma ação na Justiça contra a decisão da Polícia Federal.

“Essa é uma ação deliberada de um governo que é investigado pela Operação Lava Jato para tentar obstruir a sequência da própria operação. É contra os interesses da sociedade brasileira, contra o próprio Estado brasileiro, se trata de uma ofensa à moralidade pública, neste momento, obstruir as investigações da Operação Lava Jato desmontando a sua força-tarefa”, disse o senador Randolfe Rodrigues (REDE-AP).

O líder do PPS disse que a mudança veio em péssima hora. “No mínimo, inoportuna. Para quem olha de fora, era importante manter primeiro porque estava dando certo. A quantidade de presos, de denúncias, está dando certo. Segundo, porque, no Brasil de hoje, confiança é fundamental e, ao tocar no processo que se faz, se toca na confiabilidade e isso é muito ruim no Brasil de hoje”, afirmou o senador Cristovam Buarque (PPS-DF).

O líder do Podemos criticou o governo. “É uma trombada na prioridade nacional, que é a Operação Lava Jato. Não se trata apenas de um equívoco administrativo, uma decisão administrativa equivocada. Trata-se, mais do que isso, de uma decisão política suspeita, que dá a entender que o Ministério da Justiça e o governo querem comprometer a Operação Lava Jato, enfraquecer a Operação Lava Jato”, declarou o senador Álvaro Dias (Podemos-PR).

No começo da noite desta sexta-feira (7), o ministro Torquato Jardim voltou a evitar o assunto.