sábado, 22 de setembro de 2018

FILHA DE RONALD REAGAN REVELA QUE FOI ESTUPRADA

A escritora Patti Davis, filha de Ronald e Nancy Reagan, em 1967
WASHINGTON - "Cerca de 40 anos atrás, eu apareci no escritório de um proeminente executivo de música para uma reunião que tinha sido agendada, de forma suspeita, para o final do expediente. Mas eu não suspeitei." Assim a escritora Patti Davis, filha do ex-presidente americano Ronald Reagan, inicia o texto em que revela ter sido estuprada, publicado nesta sexta-feira no "Washington Post".

Patti tornou o trauma público no momento em que Donald Trump declarou duvidar da história de Christine Blasey Ford, a mulher que acusa o juiz Brett Kavanaugh, seu indicado à Suprema Corte dos EUA, de agressão sexual. Num tuíte, Trump escreveu que, se o ataque "fosse tão grave quanto ela diz", Christine teria registrado queixa na polícia, ou contado a seus pais o que aconteceu. Numa tentativa de retirar a credibilidade da vítima, o presidente pediu ainda que Christine mostrasse os relatórios da polícia na época, "para que possamos saber a data, a hora, o lugar" do suposto ataque sexual.

As vítimas de violência sexual, no entanto, não raro se calam sobre seus traumas e muitas vezes não se lembram de detalhes dos abusos sofridos. É o que relata Patti Davis no texto que escreveu para o "Washington Post": "Eu nunca contei a ninguém por décadas — nem a um amigo, nem a um namorado, nem a um terapeuta, nem a meu marido quando me casei, anos depois."

A filha de Ronald Reagan completa: "Não me surpreende nem um pouco que, por mais de 30 anos, Christine Blasey Ford não tenha falado sobre o ataque que ela acusa Brett M. Kavanaugh, indicado para a Suprema Corte, de cometer."

Nas palavras da escritora, "é importante entender como a memória funciona em um evento traumático". Ela explica: "Christine Ford tem sido criticada por coisas de que ela não se lembra, como o endereço onde diz que o ataque aconteceu, ou a época do ano, ou de quem era a casa (onde estava). Mas sua memória do ataque em si é vívida e detalhada. A mão dele sobre sua boca, outro jovem se juntando (à cena), seu medo de que talvez ela morresse ali, incapaz de respirar. É o que acontece: a memória tira fotos dos detalhes que te assombrarão para sempre, isso vai mudar sua vida e viver sob sua pele. Isso apaga outras partes da história que realmente não importam muito."

Patti, bem como Christine e vítimas de traumas, não se lembra de tudo o que ocorreu naquele fim de tarde em que foi à reunião com o proeminente executivo da música. "Estava ansiosa para tentar emplacar algumas das minhas letras com artistas que ele representava", escreve. Levou ao encontro uma fita cassete com seu trabalho, mas não se lembra o que o homem teria dito sobre suas composições. Do céu ficando escuro do lado de fora da janela, ela se lembra. Do prédio estar vazio e de ter ficado sozinha com o homem naquela sala, também. Sua memória também não apagou o rosto, o cabelo e o terno que o homem vestia. Mas não ficou a certeza absoluta sobre ter usado cocaína com o agressor.

O juiz Brett Kavanaugh, acusado de agressão sexual por Christine Ford, que pede ao FBI que investigue seu caso
"Tenho 90% de certeza que recusei sua oferta, não porque eu não usava drogas — eu definitivamente usava naqueles anos — mas porque eu estava começando a me sentir desconfortável. Minha lembrança do desconforto é nítida e clara, mas minha lembrança de recusar a cocaína é, como eu disse, de cerca de 90%", escreve.

"O que aconteceu depois, porém, é indelével. Ele atravessou a sala. Havia um tapete verde-escuro, mas seus passos pareciam altos e fortes. Ele estava contra mim, em cima de mim — tão rapidamente — com as mãos debaixo da saia e a boca na minha, que eu congelei. Eu me deitei enquanto ele se empurrava para dentro de mim. O sofá de couro preso à minha pele fazia barulhos embaixo de mim. Seu hálito cheirava a café e pão amanhecido. Ele não usou camisinha. Lembro-me de sair depois, dirigindo para casa, a noite em volta de mim brilhou com luzes da rua e viva com as pessoas no jantar ou nos bares. Eu me senti sozinha, envergonhada e enojada de mim mesma. Por que eu não saí de lá? Por que eu não o empurrei? Por que eu congelei?"

Bem como Christine, que teria sido agredida pelo juiz indicado por Trump para a Suprema Corte, ela não sabe precisar o mês em que foi estuprada. Não sabe se ela e o agressor chegaram a conversar depois do ato de violência. E, por essas lacunas na memória, apoia Christine em seu pedido para que o FBI investigue os detalhes que a memória da vítima tratou de apagar. Ela escreve: "É um pedido corajoso. Talvez os homens idosos que estão prestes a interrogá-la, a menos que se escondam atrás de substitutos, parem por um momento e pensem na coragem que uma mulher leva para dizer: 'Aqui está minha memória'. Isso me assombrou por décadas. Isso mudou minha vida. E você precisa saber disso agora em razão do que está em jogo neste país."

Para Patti, "solicitar uma investigação sobre o incidente não é pedir muito". E completa: "A menos que eles apenas queiram que ela desapareça. O que é, a propósito, uma razão pela qual as mulheres têm medo de falar."

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