domingo, 18 de novembro de 2018

SOBREVIVENTE DO HOLOCAUSTO MORRE AOS 86 ANOS EM SÃO PAULO

A sobrevivente do Holocausto Miriam Brik Nekrycz, de 86 anos, morreu no último domingo, 18, em São Paulo. Nascida em Lutsk, na Ucrânia, Miriam veio ao Brasil após perder toda a sua família na Segunda Guerra Mundial.

No Brasil, Miriam se casou com Ben Abraham e constituiu uma nova família, além de se dedicar à preservação da memória da guerra por meio de palestras.

Mais velha de uma família com quatro crianças, Miriam tinha 9 anos quando os alemães invadiram a cidade onde morava, no Leste da Polônia, que vivia sob o regime comunista e se localizava perto da fronteira com a União Soviética. "Na noite de 22 de junho de 1941, acordamos com um estrondo terrível. A casa tremia, as coisas voavam e os vidros quebraram. E não sabíamos o que estava acontecendo."

"As pessoas que tinham condições, fugiam para a União Soviética", afirmou em uma palestra. "Mas nós fomos para uma aldeia próxima na cidade. Já tinha muita gente por lá. Os aldeões nos vendiam água e pedaços de pão por um preço muito alto."

Não demorou para que os alemães tomassem o controle. "A primeira coisa que os nazistas fizeram foi perseguir, maltratar e matar os judeus." Segundo Miriam, os alemães afixavam decretos nas paredes, e os judeus eram forçados a acatar. "Quem tinha ouro e prata era obrigado a entregar para os nazistas, que depois recolheram também cobertores, travesseiros e roupas de frio. Quem não entregasse estava sujeito a castigos pesados ou até a morrer."

"Depois, saiu um decreto dizendo que os homens de 16 a 60 anos deviam se apresentar para trabalhar. Eles acharam bom e foram." Miriam só soube após o fim da guerra que todos os 3 mil homens da cidade que se apresentaram foram mortos no mesmo dia.

"Nós estávamos morando de favor com minha avó junto com outras duas famílias. A gente passava uma fome terrível, porque os alemães nos permitiam comprar somente 80 gramas de pão por dia. Tinha que ficar em uma fila enorme para receber esse pão."

"Um milhão e meio de crianças judias foram exterminadas durante o Holocausto. Quis o destino que eu, uma das poucas, fosse salva", escreveu em seu livro "Relato de uma vida". "Se eu fui preservada apenas para presenciar a derrota nazista, sentir o gosto supremo da liberdade e ver a vitória sobre a opressão e a morte, isto bastaria para eu me considerar feliz."

O enterro está marcado para as 11h desta segunda-feira, 19, no Cemitério Israelita Butantã.

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