terça-feira, 30 de janeiro de 2018

Integrantes de terreiro acusam PMs de invadir templo e disparar tiros na BA; líder foi preso na ação: 'Intolerância e racismo'


Integrantes do terreiro Ilê Axé Torrun Gunan acusam policiais militares de terem invadido o templo religioso, localizado na região da Lagoa da Paixão, no Subúrbio Ferroviário de Salvador, disparado tiros no local e ameaçado filhos de santo. De acordo com eles, os PMs colocaram armas nas cabeças dos candomblecistas durante operação policial na localidade.

A situação ocorreu no sábado (27). Durante a ação, um líder religioso do terreiro, o ogã (protetor) Eduardo Machado, chegou a ser preso por desacato e resistência à prisão, e foi solto depois. Nesta terça-feira (30), o terreiro emitiu uma nota de repúdio à situação. O comunicado foi divulgado nas redes sociais, com um vídeo que mostra fotos da situação.

"O Ilê Axé Torrun Gunan vem a público manifestar o seu repúdio e denunciar mais um ato de intolerância religiosa, racismo institucional e agressão sofrida, no último sábado, 27, praticados por policiais militares que invadiram o templo religioso dando tiros, agredindo e apontando armas na cabeça dos filhos de santo sob a alegação de que 'damos guarita para marginais da localidade'", diz um trecho do comunicado.


O terreiro afirma ainda que os tiros disparados pelos PMs atingiram cômodos do templo. "Dessa vez, sob alegação que estavam em troca de tiros com criminosos e sem qualquer aviso adentraram e atiraram contra o Terreiro, deixando várias marcas de bala nas paredes do barracão e no Quarto de Santo colocando a vida de todos em risco. Por intercessão divina o pior não aconteceu, pois estávamos trabalhando com portas e janelas abertas, como de costume", afirma o comunicado.

Em nota, a Polícia Militar informou que instaurou uma sindicância para apurar a situação. De acordo com o comunicado, participaram da ação policiais da Companhia Independente de Policiamento Tático (CIPT/Rondesp BTS) e do Peto da 31ª Companhia Independente de Polícia Militar (CIPM).

Conforme a PM, os agentes atendiam a uma ocorrência na qual um morador da região havia sido expulso de sua residência por traficantes locais, quando se depararam com indivíduos armados e houve troca de tiros. Durante a ação, segundo a PM, criminosos entraram no terreno do terreiro e os policiais entraram também para perseguí-los.

Ainda de acordo com a PM, o líder religioso preso teria desobedecido a ordem para abordagem, apresentou resistência ao negar-se a colocar as mãos na cabeça durante a busca pessoal e desacatou os policiais. Segundo a PM, o religioso já havia sido preso por desacato nos anos de 2004 e 2016.

No comunicado divulgado nas redes sociais, o terreiro alega que o ogã estava pedindo respeito ao templo quando foi preso. "Por exigir respeito ao templo sagrado e pedir a retirada dos policiais, o Ogã Eduardo Machado foi preso por desacato e resistência à prisão", diz.

Outro caso


Em agosto do ano passado, o líder do terreiro Hunkpame Savalu Vodun Zo Kwe, que é tombado pela prefeitura e fica localizado no bairro do Curuzu, em Salvador, acusou três policiais militares de invasão, após os agentes arrombarem uma porta para entrar em uma das casas da comunidade.

Segundo Amilton Costa, a situação ocorreu durante uma operação policial no bairro do Curuzu e adjacências, e minutos depois do líder religioso permitir que alguns policiais civis entrassem na comunidade pela porta da frente.

De acordo com o líder regilioso, os policiais militares pularam o muro dos fundos do terreiro para terem acesso ao interior da comunidade, e o ameaçaram com uma arma, quando ele tentou pedir para que fossem embora.

Em nota, a Polícia Militar informou que agentes da Companhia de Patrulhamento Tático Móvel (Patamo) perseguiam suspeitos na região, logo após a ocupação do bairro, quando precisaram entrar em um terreno amplo, e só perceberam depois que se tratava do terreiro.


Ainda em nota, a PM afirmou que, após suspeitarem que os criminosos teriam se escondido em uma construção dentro desse terreno, os policiais militares determinaram a abertura da casa, contudo, não houve resposta e eles arrombaram o imóvel para a averiguação, mas nenhum suspeito foi encontrado.

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